sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Vila Nova de Outil 1758

Há alguns meses publiquei neste espaço um documento datado de 1758 que descrevia ao pormenor a Freguesia de Outil. Interpretei-o como pude devido à caligrafia por vezes pouco legível. Felizmente, o nosso caro amigo Nuno Silva conseguiu não só "traduzí-lo", como ainda encontrou as perguntas feitas pelo Marquês de Pombal a todas as povoações do país.

Aqui fica o meu sincero obrigado pela ajuda.







Um aviso de 18 de Janeiro de 1758 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Marquês de Pombal, fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações. Desse Inquérito fez parte um questionário muito completo, que se dividia em três partes : descrição geral da freguesia, descrição da serra e descrição do rio (estas duas últimas partes só seriam preenchidas no caso de haver serra ou rio), para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

O questionário foi o seguinte:

1. Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2. Se é d’el-Rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3. Quantos vizinhos tem, e o número de pessoas?
4. Se está situada em campina, vale, ou monte e que povoações se descobrem dela, e quanto distam?
5. Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?
6. Se a Paróquia está fora do lugar, ou entro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, e todos pelos seus nomes?
7. Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem Irmandades, quantas e de que santos?
8. Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?
9. Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10.Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?
11.Se tem hospital, quem o administra e que renda tem?
12. Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver de notável em qualquer destas coisas?
13. Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem?
14. Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem com maior abundância?
16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?
17. Se é couto, cabeça de concelho, honra ou behetria?
18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?
19. Se tem feira, e em que dias, e quanto dura, se é franca ou cativa?
20. Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega?
21. Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do Reino?
22. Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?
23. Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial virtude?
24. Se for porto de mar, descreva-se o sitio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade dos seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?
26. Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está reparada?
27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.
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(Tradução: contém erros e imprecisões)

Resposta aos interrogatórios a bem do serviso de S. Magestade Fidelis da freguesia de Sta Maria Magdalena do couto de Outil
1 Fica na Provinsia da Beira, parte da freguesia no termo de Outil, q he este mesmo lugar, e parte, q he Vila nova no termo de Coimbra, de cujo Bispado são.

2 Ao prezente é Senhor Donatario de Outil João Corrêa Sá, da Ex.ma Caza d'Alfêca

3 Tem a freg.a cento e des vezinhos, Outil com sincoenta e sinco, e Vila nova com outros tantos, e quatro centos e oitenta pesôas

4 Esta situada em monte e se descobrem ao Sueste Coimbra em distansia de tres légoas, Sta Cruz do Busako em quatro legoas ao Leste; mais a Nordeste Povoa da Lomba em um quarto de legoa; Ourentã e Cordinhã em uma légoa; ao Norte Cantanhede meia legoa, Porcarisa hua légoa; meia legoa ao Cauro Lemêde; mil pasos ao Tavonio Vila nova de Outil, ou ao Sudueste.

5 He termo de Outil, tem sincoenta vezinhos; e não tem mais lugar q ele só; Vila nova é termo de Coimbra

6 A Parókia está pegada com o lugar de Outil, tem dois lugares Outil e Vilanova este com sesenta vezinhos, e termos de Coimbra como fica dito.
7 Desta Parókia é Orago Patrona e Titular a Sra Sta Maria Magdalena; a igreja é de uma só nave, com tres altares; na Capela mor o do Santisimo Sacramento com a devota imagem de N. Sra da Alegria, a da Padroeira, a de Sta Ana, a de Sto Amaro.
No altar colateral da parte do evangelho estão as devotas imagens de N. Sra do O de quem é o altar, a de S. Jozé, a de Sto Ignacio Martir, a de S. Bras e a de Sta Luzia; da parte da Epª ao altar chamado de Jezus, au das Almas, com veneravel imagem de Cristo Sr nosso crucificado, S. Matheus, S. Sebastião, e S. Antonio e na pareda da parte do Evangelho a esfigie de S. Cristovão tem duas irmandades, huma do Santisimo Sacramento e outra das Almas, duas mordomias, hua de N. Sra do Ó, outra da Sra Sta Maria Magdalena, em Vila nova tem outra Mordomia de N. Sra da Esperança, q se faz por devoção.

8 O Paroco é hum Prior; aprezentado pelo Senhorio deste Couto e tem de renda duzentos mil reis, tem cazas de rezidencia e passeios

9 10, 11, 12 Não há q dizer

13 Tem Outil duas ermidas a de S. Paulo, fora do lugar 800 pasos, e é do Povo; e a de Sta Rita à entrada do lugar, é administrador desta Francisco Jozé Nogueira deste couto; O lugar de Vila nova tem dentro em si uma ermida de N. Sra da Esperança, e as devotas imagens de N. Sra, S. Miguel e S. Sebastião, e é do povo.

14 Em vinte e dois de Julho, dia em que se festeja a Padroeira comcorrem a esta Igreja com cruz alçada e guiões huma prosisão de Portunhos e outra de Cordinhã, com suas esmolas, q as Justisas mandão tirar, as quais acompanhão a prosisão com insignias no mesmo dia concorrem os povos desta vizinhansa com suas ofertas por ser esta Sta advogada contra o gorgulho nos celeiros

15 A maior abundancia de frutas são trigo, e milho, azeite e vinho mediocre.

16 Tem seus ordinº, orfãos, almoraçaila e Direitos reais, tudo anexo à mesma vara, com escrivão do Judicial e notas, oficiais da Camara Procºs, vereador escrivão da camª de q o Juis he Prezidente, fazem o corpo da camª nove homens, os tres q acabarão de servir, os atuais e tres q se elegem, tem hum jurado q dê conta dos cazos crimes ao Juis do crime de Coimbra, as apelações civeis se remetem imediatamente para a Relação do Porto, e os agravos para o corregedor e Procurador de Coimbra respectivo; tem cadeia q he a caza d'audiencia, cayxa dos orfãos e pelouros para as justiças q confirma o Senhorio deste couto. Em Vilanova tem hum juis opidano, com seu escrivão e Procurador, sugeito ao Juis de fora de Coimbra.

17 Hé couto: o S Rei D Manoel lhe deo foral, em mil e quinhentos e dezanove.

18 e 19 nada que se diga

20 Não tem correio, mas serve se do de Coimbra, q dista tres légoas.

21 Dista de Coimbra, Capital do Bispado, tres légoas ao Cauro, ou Nordeste, e de Lisboa Capital do Reino trinta e sete légoas ao Boreas, ou Aquilão.

22 Em mil e quinhentos e dezanove, como ja se dise, lhe deo foral o S. Rei D. Manoel de glorioza memoria; he tradição q a porta do pateo do Senhorio havia um cadeado, q o que se pegase a ele fugindo à Justiça o não podião prender

23 Fora do lugar tem hua fonte subterranea donde o povo se serve; chamada a fonte do corvo por hum a descobrir, outros lhe chamão fonte coberta, por ser de abóbada por modo de cisterna obra antiga / he tradição das velhas q no centro tem huma mina ou thezouro / alguns annos tambem se seca por Agosto.

24 Nada de consideração

25 Tem huns pardieiros mui altos a q chamão a torre, ou castelo, com hum pateo, e sua cisterna, e seleiro, e pertence ao Donatario

26 Não padeceo ruina no terremóto

Em Vila nova he tradição, q ouvera hum mosteiro de Religiosas da Ordem do Doutor Melifluo S. Bernardo, de q não há indicios; só o pagarem fé foros às Religiosas do Convento de Célas, junto a Coimbra, q são da mesma ordem; neste destrito no sitio das Estorcadas, ha hum foso cuja boca he como de hua dorna, excure a agoa de hum vale, da chuva, e nunca se enche, nem se sabe
donde sahe.

Do Rio nada, nem da Serra,

Outil doze de Abril de mil de mil e sete centos e sincoenta e oito anos.

O Prior Onófre Marques da Silva

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